Olá!

A casa é sua

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Quadro

Eram dois corpos.
Dois corpos que queriam virar um só.Sabe como é, não é?
O maior dos pecados realizado passo a passo, gesto a gesto, quase que como uma pintura.
A porta se fecha e do lado de fora ficou o grande mundo, são só dois, sós no total.
A dança não tem passos ensaiados, mas nunca se viu antes alguém que se entregasse plenamente a executa-la.
Eram da mesma altura, entregues a alcançar a mesma elevação.
Os sussurros despertam cada canto do quarto e tudo, tudo cria vida. Ao menos ali, enxergam todo o espaço que aquele breve mundo pode ter.
Um beijo terno de olhos fechados que enxergam a pulsação.
A pele se ouriça, não é frio.
Não se cabem ao abraço, entregam-se como se o mundo fosse acabar dali a um segundo, é a ultima chance, a ultima.
Os olhos se encontram e com o mesmo brilho, conversam.
Já não há sussurros, os mundos misturam-se pelos sons que o pequeno mundo emite ao grande mundo, é a prova de que estão vivos e que é ali, no maior dos pecados, que enxergam a beleza disso. Eles entendem, agora entendem.
Saem de si, saem alma, gemidos, suor, vida.
Se amam e há beleza no amor.


domingo, 27 de outubro de 2013

Passaninhar

Todo coração deve sentir-se assim de vez em quando.
Por mais que o meu seja pássaro e desvie das grades que tentam impor por aí, ele sente uma vontade de te pertencer e ela é quase que incontestável, já gastei todos os meus argumentos com ele, que teima.
Eu disse a ele que sou livre... "sou um homem livre!"
Acredita que riu?
Riu de mim meu coração da forma mais maliciosa possível e eu entendi da forma mais indigesta que ele já tinha escolhido onde iria pousar desconsiderando a minha primeira afirmação.
Inventei de dizer o quanto sua decisão era perigosa, quase que como uma mãe, fui fornecendo os "ses" que ele parecia ignorar e no final tive de engolir um baixo, mas com boa dicção, "eu não ligo".
Aquele diálogo de eu comigo, aquelas convicções, eu me disse de todos os perigos e fui ignorada.
Meu coração quer te sobrevoar, quer se alimentar do seu jardim, visualizar suas cores.
Meu coração quer pousada, quer lugar, pertencimento e ser novo, de novo.
Meu coração não tem chão e voa.
E apesar de tanta insegurança, quer a inteireza de descansar as asas em teu chão.
Ponha seus olhos sobre os meus e depare-se com quem eu sou.
Saiba que meus espaços de liberdade se abrem para receber.
Dou-me por livre e espontânea autonomia. 

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Postulado

Existe uma frincha que de tão referta, dói.
E do meu lado queima, arde, flameja.
E do outro, chamusca.

Existe um amor que de tão forte, fraqueja.
E do meu lado hesita.
E do outro, titubeia.

Existe, há, vive.
E do meu lado vive.
E do outro, subsiste.

Fidedignas palavras que não saem.
Genuínos atos que não existem.
Efetivo amor que me mora.
E do outro, procuro lisuras. 

Versejar

A gente só precisa vomitar o que sente de vez em quando pra ver se abre espaço dentro de si e cria um pouco mais de força. Eu acho mesmo que isso deva resolver parte dos problemas.
Gosto de voltar e rever a vida feito uma novela em que eu fico tentando adivinhar qual vai ser o final, igual um filme que emociona por transparecer aquilo que se acredita.
Tem dias que fico meio assim, sei lá, querendo virar a cara pro mundo. As pessoas te pisam, cara. Elas fazem isso tão bem que quase podem alegar inocência, fazem "sem querer", sabe como é. Elas acham que porque você não as olha nos olhos as palavras não doem tanto, mas meu amigo, uma palavra maldita num dia que te empurra pro tombo acaba com tudo.
Talvez esse seja o preço do sentir apurado demais, eu sinto tudo demais, chego a pensar que vou morrer de tanto ódio ou de tanto amor ou de tanta insegurança, acho mesmo que está tudo acabado num segundo e no outro pronta para o eterno. É engraçado.
Sinto as lágrimas alheias como facas no coração e meu sorriso se abre sozinho quando vejo um monte de gente rindo. Fico pensando o que as pessoas pensam (que coisa engraçada) enquanto caminham pela rua ou quando estão paradas nos transportes públicos, fico ouvindo a música do fone do vizinho e pensando se o humor dele condiz com o que ele escuta ou se é só um disfarce pequenino pra encarar mais um dia.
Olho os casais, as mãos que andam entrelaçadas e olho também as pessoas sozinhas, eu queria só por um instante conseguir sentir o que cada uma sente.
Acho que todo mundo vive assim e pronto, é ai que me estabaco.
As pessoas estão pouco se fodendo pra o que você está pensando, meu amigo!
Querer que todo mundo seja poeta é pretensão demais, poeta, músico, filósofo, humano, qualquer coisa que se preocupe mais do que com a hora que está marcando no relógio ou com o próprio umbigo. Ah, quanta pretensão.
O mundo correndo e eu aqui querendo andar em câmera lenta.
A sensação horrível de "o que é mesmo que eu faço por aqui?"
Talvez eu só não pertença mais, não me adeque, não me afine, não me ajuste. Talvez eu simplesmente não seja. Talvez eu não rime, na verdade, eu rimo, não rimam comigo.